TRÊS CANDIDATOS. Maçons elegem um novo chefe
Entre os desafios da gestão nacional da maçonaria a ser empossada está o empenho na moralização do quadro político
Grande Oriente do Brasil. Boa tarde. Para falar com guarda dos selos, digite um. Finanças, dois... O atendimento automático das ligações telefônicas na sede nacional da maçonaria, em Brasília, é um exemplo dos avanços tecnológicos a passos cuidadosos de uma entidade criada na Idade Média apegada a suas tradições e que elegerá seu chefe máximo hoje, ainda com cédulas de papel.
Quando chegar o momento de colocar o voto na urna, somente eleitores se fecharão em cada uma das 2 mil lojas (espécie de prefeituras) no país, como se fosse um conclave do Vaticano. Aí, farão sua escolha, secretamente, entre três nomes: o atual grão-mestre geral, Marcos José da Silva, 66 anos, o grão-mestre adjunto de São Paulo, Benedito Marques Ballouk Filho, 56 anos, e o senador Mozarildo Cavalcanti (PTB-RR), 68 anos.
A contagem dos votos entra em uma ata, enviada a Brasília. Cerca de 48 horas depois, sai o resultado. Assim, simples, mas com um quê de mistério, como toda maçonaria que se preze.
Empossado, o vencedor terá pela frente um panorama um tanto diverso daquele dos seus primeiros anos de existência, no Brasil recém-independente. À época, a maçonaria preponderava nas principais questões do país. Agiu na separação de Portugal, na abolição da escravatura e na proclamação da República. Hoje, apesar de contar com cerca de 150 mil integrantes, conforme cálculo do professor da Universidade Federal de Sergipe José Rodorval Ramalho, a entidade não tem mais a importância de outrora.
– A complexidade da sociedade civil ao longo do Século 21 anulou qualquer protagonismo de uma única organização civil – explica Ramalho.
Ainda assim, o professor admite um comportamento ativo da maçonaria na luta pela Constituinte, por exemplo. O atual chefe de gabinete do grão-mestre geral, Francisco Guimarães, lembra de outras ações importantes, como a criação da Lei da Ficha Limpa e a campanha pela reforma política.
Um dos maiores desafios à futura gestão será o empenho na moralização da política. Nada mais natural para uma instituição cuja função é “trabalhar pela cidadania e evolução espiritual do homem”, diz o grão-mestre estadual, Jorge Colombo Borges.
Perguntado sobre a proibição de as mulheres participarem das reuniões fechadas, ele fica sério.
– Eu não seria maçom se minha mulher não concordasse – afirma Borges, gargalhando.
ANDRÉ MAGS
Pedreiros em sua origem
A origem da maçonaria está ligada aos castelos, às muralhas e às catedrais do final da Idade Média na Europa, entre os séculos 13 e 14. Pedreiros especializados decidiram se fechar em um grupo para valorizar o conhecimento sobre como construir as edificações. Com saberes guardados a sete chaves, passaram a cobrar mais pelas obras. Não por acaso, a palavra francesa maçonnerie significa alvenaria.
Passada a fase inicial da maçonaria, chamada operativa, em 1717 começou o período especulativo, em que novos indivíduos, quase sempre intelectuais, passaram a integrar os quadros maçons. O foco se tornou a luta contra o clericalismo e o absolutismo, entre outros “ismos”. No Brasil, a maçonaria aportou no Século 19. Os maçons foram importantes em momentos-chave.
No Rio Grande do Sul, funcionários públicos, magistrados, militares e profissionais liberais são algumas das ocupações que prevalecem na maçonaria, hoje. Duas instituições lideram os maçons: o Grande Oriente do Rio Grande do Sul (Gorgs), que é independente da instituição nacional desde 1893, e o Grande Oriente do Brasil no Rio Grande do Sul (Gobrs), cujos integrantes habilitados podem votar hoje.
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