ROBERTO CALLAGE, DIRETOR DE CRIAÇÃO DA DCS, PRESIDENTE DO 18º FESTIVAL MUNDIAL DE PUBLICIDADE DE GRAMADO 2011
Em um minuto, 694.445 buscas são feitas no Google, 60 novos blogs são criados, 510.040 comentários publicados no Facebook e 600 vídeos no YouTube e, ao mesmo tempo, continuamos vendo TV, lendo jornais e revistas e ouvindo rádio como nunca.
A revolução digital começou silenciosa e mudou a publicidade. Palavras como crowdsourcing, brand content, search marketing e transmidia invadiram nossas vidas, sem que ninguém soubesse bem seus significados nem o que fazer com elas. E a propaganda, além de anunciar, passou a conversar com os consumidores.
O conteúdo foi além dos espaços da publicidade, virando informação, jornalismo, entretenimento, games, redes sociais e tudo o que é gerado por milhões de pessoas que encontraram na tela do computador o seu canal de expressão.
Relevante ou banal, inteligente ou vulgar, todo mundo tem opinião, todo mundo é produtor e consumidor de informação. Contrariando Andy Warhol, acho que no futuro teremos direito a 15 minutos de anonimato, não de fama.
Rompeu-se a barreira entre off e online, somos tudo ao mesmo tempo.
Mas tem uma coisa que me preocupa, ligada diretamente à área criativa: muitas vezes, parece que a internet está substituindo o nosso cérebro. Será que não estamos transferindo nossos neurônios para o mundo digital, junto com nossas músicas, fotos, comentários e senhas? É como se os arquivos mais ricos ficassem sem função: nossa memória, nossos afetos, experiências, conhecimento, percepções, e a nossa capacidade de cruzar tudo isso e transformar em ideias.
Criar é uma tarefa que estamos lentamente terceirizando. Não temos ideias. Procuramos ideias. Como se elas já estivessem praticamente prontas, em algum lugar. Pensando nisso, quando aceitei assumir a presidência do 18º Festival Internacional de Publicidade, achei importante provocar a discussão sobre o valor da criação, pois são as grandes ideias que envolvem e transformam.
“Onde está a ideia?” é o tema do festival, que acontece em Gramado, nos dias 31 de agosto, 1º e 2 de setembro. Convidamos para debater criadores de cinema, TV, propaganda, internet, jornalismo, blogueiros. É importante falar das novas tecnologias e ferramentas que tanto nos fascinam, mas ninguém se emociona só com um novo aplicativo.
Sem ideias, saímos do nada para lugar nenhum. Criar é a mais democrática das atividades, qualquer um pode exercê-la em qualquer lugar, não importa onde nasceu ou que escola frequentou. Pode ser compartilhada, coletiva, dividida ou solitária. De que outra forma uma pessoa, só com caneta e papel, se tornaria uma das maiores fortunas da Inglaterra? Joanne Kathleen Rowling tinha uma grande ideia: Harry Potter. Scheherazade segurou sua própria vida durante 1001 noites porque era criativa e contava histórias. Parece absurdo hoje, mas Freud pensou a psicanálise sem o Google. Toda a inspiração que fez o grupo inglês Monty Python revolucionar o humor na televisão não veio dos vídeos engraçados do YouTube.
Escultores, escritores, sambistas, filósofos, pintores, poetas, roqueiros, roteiristas, fotógrafos, cineastas e publicitários nos mostraram nas suas obras que o amor, o medo, os desejos e as necessidades humanas estão em todas as etapas da civilização e que sempre moraram dentro do homem. E é dentro do homem que está o grande poder.
O poder das ideias.
ZEROHORA.COM PERGUNTA AOS SEUS LEITORES, E NÓS TAMBÉM: -> Você concorda com o autor que a internet não pode Substituir o cérebro humano na criatividade?
MINHA OPINIÃO: Jamais. A internet como todas as criações do homem se revelaram instrumentos para melhorar a capacidade humana de criar ideias. As inovações estão aí num evolução impressionante que chega a assustar o mais desavisado. Tecnologia avançada ativa o cérebro humano a criar ideias cada vez mais mirabolantes e avançadas, possibilitando alcance só imaginado em histórias de ficção.
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