Numa tarde de janeiro de 1952, o jornalista Cláudio Candiota, então diretor de A Razão, de Santa Maria, encontrava-se em sua sala quando foi procurado pelo comandante do aeroclube da cidade, Fernando Pereiron. O visitante trazia uma notícia de impacto, mas não para ser divulgada. Pelo contrário, queria escondê-la. Temia causar prejuízo à imagem do estabelecimento sob sua responsabilidade.
Quando soube do que se tratava, a reação de Candiota foi em sentido oposto: “Deixa comigo. Vou tornar este aeroclube famoso em todo o mundo. É a primeira vez que acontece uma coisa como essa”, disse de imediato. Como também era correspondente no Rio Grande do Sul de O Cruzeiro, o jornalista telefonou para a direção da revista, no Rio, que mandou, já no dia seguinte, para Santa Maria, o seu melhor fotógrafo, o gaúcho Ed Keffel. Uma semana depois aparecia, com exclusividade, a reportagem em cinco páginas, amplamente ilustrada.
Um peão de estância tinha simplesmente laçado um avião em pleno vôo. E como houve dano na hélice do aparelho, o piloto estava ameaçado de demissão, por ter agido de forma imprudente e provocativa, e por não ter comunicado o fato às autoridades aeronáuticas.
TIRANDO RASANTES
O autor da façanha de “laçar um avião pelo focinho” foi o peão Euclides Guterres, 24 anos, solteiro, descrito na época como vivaz , fazedor e contador de proezas. Tudo começou quando o jovem piloto Irineu Noal, 20 anos, pegou o “Paulistinha” Manuel Ribas e decolou rumo à fazenda de Cacildo Pena Xavier, em Tronqueiras, nas proximidades da base aérea de Camobi, e passou a tirar repetidos rasantes sobre as coxilhas.
No alto de uma delas, Euclides cuidava de uma novilha com bicheira e não gostou do que viu. Achando que aquilo era alguma provocação, não teve dúvidas: armou o laço de 13 braças e quatro tentos e atirou em direção ao bico do teco-teco, acertando o alvo. Por estar preso na cincha do arreio sobre o cavalo, o laço, com o impacto, arrebentou na presilha e seguiu pendurado no avião. O piloto, assustado, tratou de pousar. Ainda na cabeceira da pista, longe do hangar, retirou o laço e o escondeu no meio das macegas.
"Eu não fiz por maldade. Foi pura brincadeira. Para falar a verdade, não acreditava que pudesse pegar o aviãozinho pelas guampas num tiro de laço.", disse o peão Euclides Guterres.
"Nada nos pode parecer mais estranho do que a notícia de que um homem tenha laçado um avião. A vontade que a gente sente é mesmo de duvidar. Mas, a verdade é que a extraordinária façanha aconteceu no pampa gaúcho, em Tronqueiras, na rica fazenda de Arroio do Só, no município de Santa Maria."
Abertura da reportagem publicada por O Cruzeiro, em 23 de fevereiro de 1952, assinada por Cláudio Candiota 1952
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