sexta-feira, 25 de março de 2011

A ERA DOS SURTADOS



O mundo vive um surto de paranoia. Qualquer coisa que se diga ou se escreva acaba se identificando com alguém em algum lugar do planeta e sempre haverá um indivíduo para esbravejar contra o “ataque pessoal desferido”. A quantidade de surtos está tão evoluída, que escrever um artigo, uma crônica, contar piada, descrever um fato, valer-se da história para justificar teses, ou interpretar e comentar uma mensagem na internete já é suficiente para que alguém acabe se identificando com algum detalhe textual. Isto quando não “veem nas entrelinhas” intenções outras do autor. Daí para um surto paranóico é só uma questão de tempo. É o que a minha avó chamava de “mania de perseguição”. “Não olha pra ele, meu filho – dizia ela – que ele tem mania de perseguição e vai te destratar”.

Os surtos já chegaram a tal ponto, que até aquela antiga e inocente paquera na rua ou num barzinho, aquele olhar de relance para uma mulher, já é suficiente para que seja interpretado como uma ofensa, quem sabe a identificação de alguma coisa errada na roupa, na maquiagem, no cabelo ou no corpo. Se olhar para os pés, então, é porque o problema é o joanete.

O mundo está assim. Sair na rua tornou-se um problema. Olhar para cima só para admirar o detalhe de uma construção já é suficiente para que achem que o cara é um voyeur que quer olhar para dentro dos apartamentos para ver alguma coisa que o deixe sexualmente excitado. Se sorrir inocentemente para uma criança, estamos diante de um tarado pedófilo.
Para os que, como eu, escrevem poesias de vez em quando há sempre alguma vantagem, o que indica que nem tudo é um caos, pois sempre haverá alguém a ler o poema para, num pequeno momento de romantismo, dizer: “identifiquei-me nestes versos, ele escreveu para mim”.

Deve ser para se livrar dos surtos paranoicos que alguns autores de livros têm o hábito de se utilizar daquela expressão que diz que “qualquer semelhança com fatos ou pessoas na vida real terá sido mera coincidência”. Mesmo assim, muitas vezes esta precaução é inútil, pois o grau do surto e as causas que contribuem para com ele neste mundo de atribulações são tão grandes, que sempre haverá um se identificando com alguma passagem do livro e esbravejando para soltar impropérios por ter sido “atacado pelo autor”.

É por isto, prezados leitores, que eu encerro esta mal escrita e inútil crônica dizendo que “qualquer coisa que eu aqui escrevi que tenha semelhança com fatos ou pessoas na vida real terá sido mera coincidência”.

Alberto Afonso Landa Camargo, Coronel RR da Brigada Milita; Professor.

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