quinta-feira, 30 de setembro de 2010

SER FELIZ COM POUCO DINHEIRO



Receita para ser feliz mesmo com pouco dinheiro. Estudo de universidades americanas diz que o bem-estar depende de como gastamos o que temos e dá oito dicas para o consumidor - Paula Rocha, Revista Isto É, N° Edição: 2133 | 24.Set.10 - 21:00 | Atualizado em 30.Set.10 - 14:55

Se você não está feliz com seu dinheiro, provavelmente é porque não sabe gastá-lo. A provocativa afirmação é tema de um recente estudo realizado pelas Universidades de Harvard, Virginia e British Columbia, nos Estados Unidos, que procurou traçar as ligações entre consumo e felicidade. Segundo a pesquisa, o conceito de bem-estar não está relacionado com o tamanho de nossa riqueza, mas sim com a forma como gastamos o que temos. “O dinheiro nos deixa alegres quando pensamos nele, mas nem tanto quando o usamos. E isso não deveria acontecer”, afirma a professora de psicologia Elizabeth Dunn, da British Columbia, responsável pelo trabalho. A compra imediata impulsiva de bens e serviços é apontada pela pesquisadora como uma das principais causas da insatisfação dos consumidores atuais. “Muitas pessoas esquecem ou não sabem que planejar, antecipar e desejar são fatores essenciais para a felicidade”, explica. Analisando o comportamento de compradores de várias partes do mundo, a psicóloga americana e sua equipe listaram oito dicas que podem ajudar você a ser mais feliz com seu dinheiro.

1 - Comprar experiências e não coisas

O instrutor de artes marciais Alexei Caio, 35 anos, não tem tevê de plasma, computador de última geração nem móveis sofisticados. Mesmo assim, se considera uma pessoa plenamente feliz. “Prefiro gastar meu dinheiro em viagens do que com bens materiais”, declara. Todos os anos, Caio embarca em aventuras pela América Latina, fazendo caminhadas e conhecendo novos lugares. “Experiências proporcionam prazer em dobro, pois nos fazem felizes enquanto vivemos e, depois, quando recordamos”, diz a professora Elizabeth Dunn, da British Columbia. Investir em cursos, viagens, jantares e programas de lazer são boas maneiras de encontrar a satisfação pessoal. Além disso, experiências, mais do que coisas, podem ser divididas com outras pessoas, uma fonte comprovada de felicidade.

2 - Gastar com os outros e não apenas com você

Tudo o que fazemos para estreitar nossas relações pessoais aumenta a felicidade. E isso inclui gastar dinheiro. Segundo o estudo, doar valores ou objetos ativa áreas do cérebro relacionadas à recompensa. Ou seja, comprar presentes para as pessoas que você ama, fazer caridade e ajudar familiares, se forem atos voluntários, aumentam o bem-estar.

3 - Investir em pequenos prazeres

Se você tem dinheiro para gastar, é melhor comprar vários pequenos prazeres do que torrar tudo numa única aquisição. De acordo com a pesquisa, quando adquirimos algo de grande valor, temos uma satisfação momentânea, que diminui com o tempo. Compras menores, porém mais frequentes, garantem bem-estar constante. A professora Mariane D’Ávila, 45 anos, aprendeu essa lição. “Já cheguei a comprar 12 pares de sapatos de uma vez. Dizia: ‘Não gasto nunca, então posso fazer extravagâncias’”, conta. Hoje Mariane trocou os impulsos consumistas por sessões de massagem semanais. “Descobri que a felicidade está muito mais relacionada à minha qualidade de vida do que às peças caras no meu armário”, diz.

4 - Comprar sem pensar em trocar

Como foi comprovado no estudo, a possibilidade de troca induz ao gasto por impulso, um dos principais motivos de insatisfação. “Quando não precisamos nos comprometer com uma aquisição, perdemos o interesse por ela. Aí, o outro vestido que deixamos na loja parece mais bonito do que o que trouxemos para casa”, exemplifica a pesquisadora Elizabeth.

5 - Pagar agora e usar depois

O princípio é o oposto da política praticada pelas companhias de cartão de crédito, que estimulam os consumidores a comprarem agora e pagarem depois. Segundo os pesquisadores, é mais feliz quem consegue fugir dos parcelamentos e honra as compras à vista. “Essa dica vale para uma economia em recessão como a dos Estados Unidos, mas não para o Brasil”, afirma Fábio Mariano Borges, professor de pós-graduação em ciências do consumo da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM). “Aqui a explosão do consumo da classe C se deve em grande parte à oferta de crédito, ou seja, ao parcelamento”, diz. O conselho de Borges para quem precisa financiar é colocar os gastos na ponta do lápis: “Não comprometa mais do que 20% de sua renda com o financiamento.”

6 - Planejar também o pós-compra

Segundo o estudo, a felicidade está nos detalhes. Por isso, precisamos considerar todos os aspectos de uma nova aquisição antes de confirmá-la. Expectativas muito altas em relação ao produto, por exemplo, podem levar à decepção. “Quando imaginamos como iremos incluir uma nova compra em nossa rotina, temos mais chances de tirarmos satisfação dela”, diz Elizabeth. Portanto, antes de pagar por um novo bem, temos que considerar quando vamos utilizá-lo e como.

7 - Não procurar apenas a melhor oferta

A pesquisa também sugere que, em muitos casos, economizar não significa garantia de felicidade. “Ao comparar só o preço, podemos descartar produtos que nos fariam felizes somente porque existem opções mais baratas”, afirma a pesquisadora Elizabeth. Segundo ela, é necessário considerar o preço sim, mas sem deixar de lado outras características, como durabilidade, praticidade e, claro, qualidade.

8 - Ouvir a opinião dos outros

Comprar algo apenas porque outras pessoas têm é um dos caminhos mais curtos para a infelicidade. No entanto, ouvir a opinião dos outros pode ajudar, e muito, na escolha daquilo que nos trará prazer. “Um observador atento é capaz de dizer que prato do restaurante nos fará mais felizes, apenas por identificar nossas reações ao ler o cardápio”, exemplifica a professora Elizabeth, da British Columbia. O professor Borges, da ESPM, concorda. Para ele, a internet facilita a vida do consumidor, pois disponibiliza críticas de outros compradores sobre qualquer tipo de bem ou serviço. “Consultar o julgamento alheio já é uma prática comum do cliente, porém, com o acesso cada vez maior à tecnologia, essa segunda opinião se torna mais procurada e legitimada”, diz.

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