ZERO HORA 10 de janeiro de 2015 | N° 18038
ESTUDOS PELA FRENTE
Diagnóstico preciso é essencial para mais qualidade de vida
O avanço nas pesquisas em adultos portadores de TDAH tem trazido à tona a importância de um correto e preciso diagnóstico sobre a doença depois da infância, já que os tratamentos disponíveis trazem resultados quase imediatos quando o assunto é melhorar a qualidade de vida. Uma das últimas novidades na área foi a atualização dos critérios de diagnóstico, modificados para a mais recente edição do Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-5) – publicação da Associação Americana de Psiquiatria adotada como principal guia internacional para a determinação das doenças mentais. Nesta atualização, de 2013, houve uma redução em relação à quantidade de sintomas necessários para o diagnóstico em adultos, já que eles tendem a atenuar alguns dos traços comportamentais.
– Manifestações de hiperatividade, como correr, escalar móveis e outros sintomas característicos de crianças, não são necessários para identificar o transtorno em adultos, por exemplo. Eles sofrem mais da sensação de inquietude, como não conseguir relaxar em momentos de descanso – explica o psiquiatra Paulo Mattos.
Além disso, a idade limite para o início da manifestação dos sintomas também foi alterada. Antigamente, eles deveriam aparecer até os sete anos. Hoje, este limite foi estendido para os 12 anos já que, segundo o especialista, muitos adultos portadores da doença têm dificuldade de se lembrar dos comportamentos atípicos antes dos sete anos.
Os tratamentos realizados hoje para pacientes portadores do transtorno, tanto adultos quanto crianças, são baseados em medicamentos psicoestimulantes, como a ritalina e a anfetamina. O psiquiatra Eugenio Grevet explica que, apesar de não ter cura, o TDAH é uma doença que ainda precisa de muitos estudos, pois em torno de 15% dos pacientes que realizam um tratamento contínuo por cerca de sete anos param de apresentar os sintomas mesmo depois de deixar de tomar o medicamento.
Tratamento pode dar mais segurança
Para Cleber Ferrari, o tratamento de dois anos com medicamentos e acompanhamento de especialistas significou uma mudança radical em sua vida. Sentindo-se mais “enquadrado” na sociedade, ele adquiriu a confiança para ingressar em cursos de pós-graduação e, principalmente, de estudar para um concurso, do qual já foi aprovado.
– Ninguém enxergava o que eu tinha como um transtorno, mas depois que realizei as avaliações e fui diagnosticado, vi que muitas coisas na minha vida faziam sentido. Hoje sei que o tenho e que preciso tratá-lo da forma adequada – resume Cleber.
Sou um adulto com TDAH?
Veja alguns sinais que podem identificar o transtorno na pós-adolescência
Falta de foco
Assim como crianças, adultos portadores de TDAH apresentam dificuldade de prestar atenção em detalhes e acabam cometendo erros por descuido em atividades cotidianas. No trabalho, eles tendem a adiar tarefas que julgam desinteressantes ou desagradáveis.
Atrasos frequentes
Ao contrário do que acontece com as crianças, que normalmente têm os pais para organizar suas tarefas, os adultos com o transtorno costumam se atrasar com frequência ou deixam de cumprir compromissos.
Rotina desorganizada
A dificuldade de estabelecer prioridades é frequentemente identificada nos portadores do transtorno, que demoram mais do que o normal para organizar ou terminar uma tarefa antes de iniciar a outra. Isso deixa a rotina deles desorganizada, e dá a impressão que não têm tempo para executar as tarefas.
Dificuldade de manter relacionamentos
Conforme a Associação Brasileira de Déficit de Atenção, aproximadamente 25% dos adultos com TDAH podem ter sérios problemas de conduta antissocial, o que prejudica tanto as relações sociais como afetivas.
Ansiedade e estresse
Nos adultos, sintomas como estresse e ansiedade são mais associados à rotina muito agitada e, raramente, levam as pessoas a um médico que possa fazer o diagnóstico preciso do transtorno. Pacientes com TDAH sofrem de ansiedade por não conseguirem se enquadrar nos padrões de trabalho, por exemplo, o que leva a quadros graves de estresse e depressão.
Problemas ao dirigir
Assim como as crianças, os adultos com TDAH têm dificuldades de realizar tarefas que exijam concentração por um tempo prolongado, como dirigir. Eles tendem a se distrair facilmente, olhando para rádio, celular e perdendo o foco na direção.
Perda de prazos
Com um estilo de vida bastante desorganizado, normalmente esses adultos esquecem de pagar contas em dia e cumprir prazos que são estabelecidos, tanto por não recordarem as datas como por não conseguirem estabelecer uma agenda para entregar tarefas.
Dificuldades sociais
Em geral, os portadores de TDAH são impacientes, tomam decisões precipitadas e, muitas vezes, se arrependem daquilo que fazem impulsivamente. Isso dificulta o convívio social e profissional.
Incapacidade de relaxar
Enquanto crianças com TDAH manifestam sintomas de hiperatividade como correr pela casa, escalar móveis, entre outros, os adultos portadores sofrem com a sensação de inquietude. Em momento de relaxamento, com férias e finais de semana, eles têm dificuldade de sossegar e ficar parados.
CLEBER FERRARI SOUBE QUE TINHA TDAH AOS 31 ANOS E DIZ QUE FOI UM MOMENTO DE ALÍVIO