Alexandre Pavan Torres, Universidade Federal de Santa Catarina
Emilio Araújo Menezes, Universidade Federal de Santa Catarina
Fernando A. Ribeiro Serra, UNISUL Business School
Manuel Portugal Ferreira, Instituto Politécnico de Leiria
Não
dispomos de um conceito exato e taxativo sobre o que significa declínio
na literatura acadêmica (KIMBERLY, 1976; CAMERON; WHETEN, 1983). Os
trabalhos sobre declínio se desenvolveram usando a mesma base conceptual
que os estudos que visam explicar o sucesso. Por exemplo, os estudos
sobre a inter-dependência entre a organização e seu ambiente externo
(LAWRENCE; LORSCH, 1967; MEYER, 1978; ALDRICH, 1979), os estudos focados
na dependência de recursos (PFEFFER; SALACIK, 1978) e mesmo na detenção
de recursos estratégicos superiores (BARNEY, 1986,1991).
Outras
contribuições vieram de trabalhos relacionados à incerteza (SIMON, 1962;
THOMPSON, 1967; COHEN; MARCH, 1972) e da gestão de crise (SMART;
VERTINSKY, 1977; STARBUCK, GREVE; HEDBERG, 1978; MILBURN; SCHULER;
WATMAN, 1983). Alguns autores consideram mesmo que o declínio é algo de
inevitável, dado que as empresas seguem um ciclo de vida mais ou menos
determinístico que, eventualmente, conduzirá à morte das organizações.
Mintzberg (1984), por exemplo, argumentou que as organizações atingem um
ponto máximo e, depois, começam a declinar.
O
declínio parece estar relacionado com a capacidade competitiva. A
competitividade, segundo Ferraz, Kupfer e Haguenauer (1996, p. 3), pode
ser definida como "a capacidade da empresa formular e implementar
estratégias concorrenciais, que lhe permitam ampliar ou conservar, de
forma duradoura, uma posição sustentável no mercado". Assim, os estudos
de competitividade têm relação com o declínio e foi a perda de
capacidade competitiva da indústria norte-americana de transformação,
principalmente face à indústria japonesa, na década de 1980, que terá
impulsionado os estudos sobre o tema (POSSAS, 1999).
No Brasil, a partir da década de 1990, com a abertura da economia brasileira ao exterior, as empresas e setores passaram a estar propensos a sofrerem os mesmos efeitos – face à incapacidade competitiva as empresas são gradualmente expelidas do mercado.
O
declínio tem, ainda, sido relacionado a fatores como a dimensão da
organização, a perda de quota de mercado, redução de ativos, diminuição
dos lucros, queda na cotação das ações, redução da dimensão da empresa
(ver, por exemplo. GREENHALGH, 1982, 1983). No entanto, na sua maioria,
estas serão conseqüências do declínio e não fatores ex ante que
conduziriam previsivelmente ao declínio. Outros autores argumentam que o
declínio se relaciona à retração de mercado e à incapacidade da empresa
reagir a mutações na demanda (MILLER; FRIESEN, 1984, CAMERON et al.,
1987; WEITZEL; JONSSON, 1989; CASTROGIOVANNI, 1991). Wheten (1980, p.
577) em artigo precursor sobre o assunto, afirma que “o declínio
organizacional, embora uma importante e fundamental preocupação das
organizações tem recebido pouca atenção da pesquisa”.
Cameron,
Sutton e Wheten (1988) argumentam que cerca de três quartos da
literatura acadêmica em declínio organizacional apareceu após 1978. A
partir de então, a compreensão do declínio e do sucesso das organizações
tem sido um tema central na pesquisa acadêmica internacional em
administração (FLECK, 2004), mas não, pelo menos de forma tão clara, no
Brasil.
A seguir, na tabela 1, sistematizamos algumas definições de declínio, de trabalhos fundamentais publicados a partir da década de 1980.
Tabela 1. Definições de declínio organizacional
Autor - Definição ou sentido - Observação
Grenhalgh (1983, p.232)
Definição - “O declínio ocorre quando a organização não consegue manter a capacidade de adaptação em
resposta a um ambiente estável, ou quando não consegue alargar ou aumentar o seu domínio sobre um nicho de mercado onde enfrenta gradualmente maior competição”.
Observação - Declínio, neste caso está definido como o oposto a adaptação. Os ambientes, em geral, não são estáveis e o conceito estático é limitado.
Levy (1986)
Definição - Define declínio organizacional como falta de consciência das ameaças ambientais, das fraquezas organizacionais e não estabelecer ações corretivas nestas condições.
Observação - A definição acrescenta a falta de atenção às ameaças ambientais e falta de ação.
Weitzel e Jonsson (1989, p. 94)
Definição - “As organizações entram no estado de declínio quando deixam de antecipar, reconhecer, prevenir, neutralizar ou adaptar às pressões externas ou internas que ameaçam a sobrevivência de longo prazo da organização”.
Observação - Os autores incorporam às definições anteriores a diferença entre declínio e períodos de consolidação e das demais respostas organizacionais às demandas por produtos e serviços.
Rozanski (1994)
Definição - Declínio é uma condição na qual acontece um decréscimo substancial e absoluto da base de recursos da organização.
Observação - Nesta definição a perda de recursos é que indica o declínio.
Um
aspecto comum em relação aos diversos autores que procuraram definir
declínio, é que este parece acontecer ao longo de um dado período de
tempo. Whetten (1980), por exemplo, classifica o declínio segundo dois
tipos de situações: a estagnação, que é mais provável ocorrer em
organizações passivas e pouco flexíveis; e a redução, na qual existe
perda de quota de mercado e decréscimo de competitividade. Outros
autores, seguindo Whetten (1980), também enfatizaram os períodos de
estagnação ou declínio (GREENHALGH,1983; CAMERON; ZAMMUTO, 1984). Pandit
(2000) argumenta que a falha das organizações tem sido definida como um
‘declínio ameaçador da existência’ no desempenho. Entretanto, este
declínio pode ser abrupto ou gradual, podendo ser precipitado por atos
internos ou pela inatividade, assim como por eventos externos e fatores
ambientais (WALSHE et al., 2004).
FONTE: WORKING PAPER Nº 26/2008, September 2008 - PARTE DO TRABALHO,O declínio das grandes empresas brasileiras